Ode ao Estado Brasileiro

Jorge Luiz Souto Maior(*)

Eu insulto o Estado brasileiro
Esse Estado letárgico, inculto, impuro e espúrio
Antro de corruptos, espertos e malandros
Alvo de lobistas, amigos e parentes

Eu o acuso pelo descaso com a coisa pública
Com a educação, a saúde e o lazer
Com o cidadão trabalhador,
E com empresas socialmente responsáveis

Estado que cobra, prende, mata,
Distribui privilégios e favores,
Enquanto afugenta, reprime, explora
E trai a quem suas instituições defende

Abaixo ao comodismo, ao favoritismo, ao conservadorismo
Ao clientelismo, ao coronelismo e a todos os ismos…

Eu insulto esse Estado,
Que anistia a devedores fiscais
E penaliza a quem age corretamente
Que não pune os colarinhos brancos
E prende, sem processo, o criminoso famélico

Não paga dívidas
Não se dá ao respeito
Cria leis e não as cumpre

Um Estado que sem-vergonha
Esconde-se em atos secretos
Que uma vez descobertos
Sem passar apertos, se tornam concretos
São atos espertos…

Um Estado em que prevalecem
Conluios, alianças e conchavos,
Para, enfim, reeleição!

Eu acuso esse Estado por todos os desalentos e atritos
De ser assistencial para os pobres e financiador para os ricos


(*) Juiz do trabalho, titular da 3ª. Vara do Trabalho de Jundiaí, professor livre-docente da Faculdade de Direito da USP e membro da Associação Juízes para a Democracia.

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