A ABRAPO (Associação Brasileira dos Advogados do Povo – Gabriel Pimenta) vem a público manifestar o seu mais veemente repúdio à covarde chacina ocorrida em 28/10/2025, nos Complexos do Alemão e da Penha, com um saldo de 121 mortos e uma dezena de feridos, até o momento da redação desta nota (já se fala em 130 mortos), numa carnificina jamais vista antes.
A cada justificativa das autoridades das polícias e do Governo do Estado, corroborada pelo monopólio de imprensa, a coisa fica mais escancarada, na verdade.
A saudada eficácia e o propalado êxito militar da “operação” se deveram, na verdade, a um cerco proibido, conhecido como “Caldeirão de Hamburgo”, que encurralou os bandidos na mata existente no alto da Serra da Misericórdia, os quais, dessa forma, cercados por todos os lados, foram “neutralizados”.
Muitos dizem que falta uma política de segurança, mas, ela existe, e é essa a que estamos acostumados a constatar, que mata e prende em massa, quando, na verdade, deveria haver, sim, uma política de garantia de direitos.
O que ocorreu no Rio de Janeiro é crime de guerra, ainda que se considere uma realidade de guerra assimétrica, irregular.
O fato da maioria dos mortos ser, em tese, do Comando Vermelho não autoriza uma sequer morte sumária, por execução extrajudicial, ilegal e arbitrária, quanto mais de uma centena de pessoas.
Esse massacre do povo pobre ocorre num ambiente de ofensiva reacionária e fascista em todo o Mundo, inclusive, no Brasil, onde, há mais de uma década, a legislação vem recrudescendo, na teoria e na prática, numa campanha punitivista sem fim, que contribui para um conjunto de desvios na aplicação da lei, e, mais ainda, para o encarceramento em massa que chega a números estratosféricos no País, com quase um milhão de presos.
E o Governo Federal de turno, como de autêntica falsa esquerda, para isso vem contribuindo, desde sempre, com a criação da Força Nacional; da Lei de Organizações Criminosas; da Lei Antiterrorismo; do Pacote Anticrime; da Lei dos Crimes contra o Estado Democrático de Direito; e, agora, da Lei Antifacções, que, a propósito de combater ao crime, acaba por servir a uma política policial cruel e violenta, que acaba por atingir o povo pobre, criminalizando também os movimentos sociais e as lutas do povo, como ocorre na luta pela terra para quem nela vive e trabalha.
A seu turno, as autoridades responsáveis por essa abominável chacina ocupam a mídia vociferando sua ideologia fascista e antipovo, fazendo prosa para quem ainda acredita que “bandido bom é bandido morto”.
A ABRAPO repudia e denúncia mais essa barbárie perpetrada pelas polícias e pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro e conclama as entidades afins, os movimentos sociais, os democratas e intelectuais honestos, os estudantes, e as massas a se unirem em busca de uma investigação rigorosa e independente que seja capaz de desmascarar toda essa farsa montada pelo Governo e pela mídia hegemônica, e desvelar a face verdadeira dessa trágica e covarde chacina ocorrida no RJ, inclusive, com observadores internacionais, comprometidos com a defesa dos direitos humanos e dos direitos do povo.
Seguiremos atentos aos acontecimentos e de prontidão.
Pela investigação independente da chacina!
Pelo fim da matança do povo pobre!
Pelo fim das execuções sumárias extrajudiciais!
Fora Cláudio Castro e sua política nefasta!
