ABRAPO E CEBRASPO DENUNCIAM GRAVES VIOLAÇÕES DOS DIREITOS DOS CAMPONESES EM RONDÔNIA

A ABRAPO – Associação Brasileira dos Advogados do Povo Gabriel Pimenta e o CEBRASPO – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos vêm denunciar e repudiar a ação de agentes do Estado em conjunto com pistoleiros, a soldo do latifúndio, na Área Gedeon José Duque, localizada em Machadinho d’Oeste, em Rondônia.

Segundo denúncias do Jornal Resistência Camponesa, veiculadas no Jornal A Nova Democracia, confirmadas pela Missão de Solidariedade realizada pelo CEBRASPO no último fim de semana, 12 e 13 de abril de 2025, e relatos de pessoas que vistoriaram o local, um consórcio de latifundiários, em ação combinada entre a Polícia Militar de Rondônia e a pistolagem, que seria chefiada por Gesulino Cesar Travagine Castro, vem praticando todo tipo de violência e arbitrariedades contra os ocupantes da área, aparentemente, com a garantia de impunidade, e, inclusive, de forma audaciosa, divulgando suas ações nas redes sociais. Esse personagem de nome Gesulino é figura conhecida e é acusado de ser o assassino e mandante da conhecida “Chacina de Jacinópolis”, onde 6 (seis) pessoas foram vitimadas em 2012.

Conforme relatos dos camponeses, no dia 9 de abril, dezenas de pistoleiros, acompanhados pela Polícia Militar, chegaram atirando. Homens, mulheres e crianças tiveram que correr pelo mato adentro para não serem mortos. Todos os seus barracos e pertences foram queimados, os animais mortos a tiros e suas plantações destruídas. Saíram da área apenas com a roupa do corpo, perdendo o pouco que tinham para sobreviver.

Foto: Pistoleiros e Policiais Militares de RO atearam fogo nas casas e produção dos Camponeses em RO.

Conforme o Jornal Resistência Camponesa, na notícia veiculada em 14 de abril de 2025, no portal de notícias do Jornal A Nova Democracia:

Desde o dia 9, máquinas e tratores estão derrubando a mata de reserva localizada dentro da Área Gedeon, enquanto grupos de pistoleiros agindo em bandos seguem destruindo os pertences das famílias e caçando as famílias, inclusive um grupo de mulheres e crianças segue cercado pelos pistoleiros. Enquanto o bando armado de Gesulino faz o serviço sujo, a Polícia Militar sobrevoa a Área Gedeon com helicóptero e a Polícia Civil e Militar de Machadinho d’Oeste e de Cujubim seguem atuando por terra em coordenação com os pistoleiros que estão em grupos na mata.

https://anovademocracia.com.br/pistolagem-policia-terror-gedeon-vizinhas/

Ainda segundo o jornal:

A ação da Polícia Militar e dos pistoleiros tem se expandido para as áreas vizinhas embora não haja nenhuma operação de reintegração de posse expedida pelo judiciário de Rondônia contra essas áreas.

Idem

Não bastasse:

No dia 10, pistoleiros fizeram arrastão e invadiram a casa de camponeses na Área Gonzalo, ameaçando e agredindo vários moradores, chegaram a agarrar no pescoço de um casal de idosos, ameaçando de morte logo em seguida caso não deixassem seu lote imediatamente. Também no dia 10, a Polícia Militar invadiu uma parte da Área Revolucionária Valdiro Chagas sob a justificativa de procurar camponeses que teriam saído da Área Gedeon e que supostamente estariam sendo escondidos por outros moradores da área vizinha.

Até o momento nenhuma autoridade dos ditos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário de Rondônia se pronunciou sobre o caso. Enquanto isso, Gesulino segue postando seus crimes em suas redes sociais, como o Instagram. No último dia 30, foi postado um vídeo em que ele destruía a entrada da AR Gedeon, incendiando a estrutura de vigilância da área e as faixas colocadas pela Liga dos Camponeses Pobres. Em outro vídeo, Gesulino se vangloria da rapidez na construção de uma cerca na parte da Área Gedeon por ele invadida. (…)

Camponeses também identificaram um dos pistoleiros que baleou um camponês da Área Gedeon no dia 31, de nome Diógenes, e que seria um dos gerentes de Gesulino. O veículo utilizado no ataque esteve junto a Polícia Militar durante a prisão do comerciante local e segue circulando na área. Até o momento nenhuma prisão dos autores desse crime foi realizada.

Camponeses da região denunciam que a apreensão de armas e munições de integrantes do grupo “Invasão Zero”, realizada pela Polícia Militar no dia 09 de abril, teria sido apenas uma encenação, enquanto acobertavam os pistoleiros que estão na mata. Diante de uma frota de mais 15 caminhonetes com latifundiários e capangas armados até os dentes, o resultado da ação policial foi a apreensão de apenas 6 armas de fogo e algumas dezenas de munições.

Ibidem.

No dia 11 de abril, ocorreu outra megaoperação policial a serviço do latifúndio contra o acampamento São Francisco, localizado na região de Nova Mutum em Porto Velho (RO) onde foram presas pela Polícia Militar 26 pessoas, entre elas uma mulher grávida. A operação teve início ao meio-dia e assim como na área Gedeon, não apresentaram qualquer ordem de reintegração de posse e contou com mais de 6 (seis) viaturas, um helicóptero e mais de 20 (vinte) policiais. Segundo os camponeses, os latifundiários acompanharam a operação e deram ordens sobre quem deveria ser preso e quais itens deveriam ser levados pelos policiais. As mulheres que ficaram na área foram obrigadas a cozinhar para os policiais. No mesmo dia, os camponeses foram libertados pela ação imediata de advogadas da ABRAPO.

Por esse estado de coisas, vimos denunciar a escalada da violência perpetrada pelas polícias locais e por grupos paramilitares armados, atuando como milícias privadas dos latifundiários, situação essa que vem se verificando não só em Machadinho d’Oeste/RO, mas em várias outras regiões de Rondônia e do País, sem que os poderes constituídos tomem as medidas cabíveis, numa omissão consciente e deliberada, consorciada com os desígnios de grandes latifundiários do agronegócio e da extrema-direita, contra os interesses legítimos do povo que luta por terra para nela viver e trabalhar.

Importante, ainda, destacar que o caso não é isolado; pelo contrário, faz parte de um movimento mais amplo de ofensiva reacionária contra camponeses em prol do latifúndio. Nesse sentido, em 11 de abril de 2025, “Ao menos 26 pessoas, entre elas uma mulher grávida, foram presas pela Polícia Militar (PM) de Rondônia durante uma megaoperação policial a serviço do latifúndio contra o acampamento São Francisco, localizado na região de Nova Mutum em Porto Velho (RO)“.

Na última segunda-feira, dezenas de advogados da ABRAPO e representantes do CEBRASPO se reuniram em caráter de urgência e decidiram denunciar e levar estas denúncias para todas as instâncias de defesa de direitos humanos nacionais e internacionais.

Desse modo, conclamamos todos os democratas, entidades, coletivos e pessoas comprometidas com a luta do povo por terra, a repercutirem essas denúncias com a finalidade de vermos cessadas essas agressões violentas, a fim de se evitar tragédias maiores.

ENVIE SUA DENÚNCIA AOS SEGUINTES ÓRGÃOS:

  1. CONSELHO NACIONAL DE DIREITOS HUMANOS: cndh@mdh.gov.br
  2. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL: prro-gabprdc@mpf.mp.br
  3. DEPARTAMENTO DA OUVIDORIA AGRÁRIA NACIONAL: ouvidoria.agraria.nacional@mda.gov.br

Cobramos dos órgãos acima a apuração destas graves denúncias de violações a direitos humanos.

FONTES:

Jornal A Nova Democracia. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/pistolagem-policia-terror-gedeon-vizinhas. Acesso em 17 de abril de 2025.

Jornal A Nova Democracia. Disponível em: https://anovademocracia.com.br/26-presos-camponeses-de-rondonia-sao-alvo-de-megaoperacao-coordenada-pelo-latifundio/. Acesso em 17 de abril de 2025.

Jornal Rondônia VIP. Disponíve​l em: https://www.jornalrondoniavip.com.br/noticia/policial/chacina-de-buritis-gesulino-travagine-e-condenado-a-35-anos-de-prisao/buritis. Acesso em 17 de abril de 2025.

Jornal Rondônia Agora. Disponíve​l em: https://www.rondoniagora.com/cidades/chacina-em-buritis-policia-desvenda-crimes-e-prende-mandante. Acesso em 17 de abril de 2025.

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