Manifestantes do Povoado Vilela – MA são perseguidos pelo latifúndio

A Associação Brasileira dos Advogados do Povo Gabriel Pimenta – ABRAPO vem a público reproduzir a denúncia da perseguição aos manifestantes do Povoado Vilela – MA, que se insurgiram contra uma decisão contrária aos posseiros da Gleba Campina, em favor do latifundiário local. Segundo a denúncia narrada pela Nota de Esclarecimento dos moradores de Vilela, o julgamento se deu sem que os posseiros fossem ouvidos, em um processo que tramita há 10 anos, apresentando diversas irregularidades, reconhecidas pela defesa e até pelo Ministério Público. Como se não bastasse, na manifestação em resposta à arbitrária decisão, os moradores e manifestantes sofreram a tentativa de intimidação de um pistoleiro que se apresentou de moto, armado, atirando para cima e contra o povo, chegando a acertar a mão de um dos moradores. A intimidação, inclusive, segue sendo feita também por policiais militares, que foram ao povoado de Vilela sem nenhum mandado, chegando até a casa do morador que teve sua mão alvejada, para ameaçá-lo.
Abaixo a repressão do Estado comandada pelo latifúndio!
Terra para quem nela vive e trabalha!
Em defesa do direito do povo lutar pelos seus direitos!



” Nota de Esclarecimento
Os moradores do Povoado Vilela, de Junco do Maranhão, vêm esclarecer o que realmente
aconteceu no início de nossa manifestação ontem (29/11). Estávamos iniciando nossa manifestação
por volta das 6:30 da manhã, após o Juiz substituto da Vara Agrária Cristiano Simas ter
sentenciado contra os posseiros da Gleba Campina e a favor da Família do finado Nestor
Osvaldo Finger no dia anterior, sem ouvir os próprios posseiros ou mesmo sem conhecimento
suficiente do caso. Diga-se de passagem, processo este que tramita já há 10 anos e é cheio de
irregularidades, que foram apontadas pelo Ministério Público e pela nossa defesa, mas ignoradas pelo
juiz.
Iniciamos o fechamento da rodovia MA 206, na altura do Povoado Vilela, com madeiras e
pneus e com nossas faixas de “Pela titulação! Contra a grilagem e a mineração!” e outras. Começamos
uma reunião para que organizássemos quem poderia passar pelo bloqueio, e já estávamos cientes de
que a luta é longa e aquele era apenas mais um passo para que pudéssemos ser ouvidos.
Nesse momento, vimos uma caminhonete vermelha rondar o bloqueio e retornar no sentido
Amapá do Maranhão e, ao mesmo tempo, chegou um motoqueiro perguntando sobre o bloqueio, já
demonstrando estar alterado. Mais tarde, outros moradores disseram que ele havia acabado de
sair da estrada da Campina junto com essa caminhonete vermelha, que já sabemos ser de quem
invadiu a sede da Fazenda Santa Erica há 1 mês, onde estão vários pistoleiros, como já
denunciamos por meio de boletins de ocorrência a todas as autoridades. E esse horário da manhã
é justamente quando os pistoleiros trocam de “turno” na fazenda.
O motoqueiro chegou alterado perguntando sobre o bloqueio, havíamos acabado de deixar
passar um médico e uma mãe com filho autista, qualquer um que se apresentasse como trabalhador
essencial ou com questão de saúde iria passar. É claro que teríamos deixado passar pacificamente um
policial militar.
Como o motoqueiro não se apresentou e pensávamos que seria só alguém agressivo com
relação à manifestação, um dos manifestantes respondeu a ele que não estava passando. Ao mesmo
tempo, foi autorizada a passagem da mãe com a criança autista, e ele veio logo atrás para passar junto,
quando o pessoal questionou o fato de ele estar querendo passar sem se apresentar. Ele então desce
da moto, saca a arma da cintura e atira para cima, e imediatamente, dispara também em
direção ao povo, acertando a mão de um morador, que estava com as mãos para cima, tanto
que o tiro passa de raspão em seu ombro. Ao efetuar esse disparo, ele estava de capacete e óculos
escuros e não conseguimos nem mesmo ver seu rosto. Algumas pessoas dispersam com medo do
tiro e outras continuaram na mira dele, quando ele começa a apontar para as pessoas e atira
mais uma vez na direção de um morador do povoado, mas a bala não sai, e ele faz isso mais outras
3 vezes e não sai a bala.
É então nesse momento que os moradores tentam conter ele com medo de serem mortos. Os
moradores juntam em cima dele até conseguir tirar a arma de sua mão e imobilizá-lo. Apenas depois
de todo o ocorrido foi descoberto se tratar de um policial militar, ele não se identificou em nenhum
momento e nem estava fardado. Inclusive, ele estava de capacete quando profere os tiros, impedindo
que as pessoas o reconhecessem. Ele já atuou como policial militar em Junco do Maranhão, então ele
reconhece as pessoas, mas ninguém o reconhece.
Nenhuma ambulância chegou para socorrer o manifestante, que teve que ser levado pelos
familiares para o hospital.
Consideramos muito grave o que ocorreu, pois ficou muito claro para nós que ele não
queria passar e sim nos alvejar! Se ele quisesse passar, era apenas se identificar como policial
que teríamos deixado, mas ele ESCOLHEU atirar contra os moradores do Povoado Vilela, sem
nenhuma justificativa, mirou para nos matar, o que só nos livramos pelo fato da arma ter
travado e então o termos imobilizado. O fato é especialmente grave por tratar-se de um policial
militar, afinal, desde quando a atitude mais plausível diante de uma multidão é sacar a arma e
atirar contra a população? A forma como tudo ocorreu demonstra que foi um ato deliberado.
Diante das circunstâncias narradas e da situação de pistolagem na região que, historicamente,
conta com apoio de policiais militares, como a comunidade denunciou inúmeras vezes, contanto,
inclusive com vídeos e fotos, que o autor dessa tentativa de assassinato contra os moradores,
estivesse agindo a favor da Família Finger. Não fosse a falha da arma, o policial teria ferido e
matado várias pessoas e fugido sem que ninguém o reconhecesse, já que estava de capacete,
óculos e jaqueta.
A situação é extremamente grave contra os moradores da comunidade Vilela, que tanto
já sofreram com ações de grileiros e pistoleiros, sob a conivência do Estado. E, pior, agora foi
lançada uma campanha criminalizadora contra a comunidade, com intuito claro de criar um
clima de revanche por parte da PM. Não à toa, já no início da tarde do dia seguinte, policiais
militares de Junco do Maranhão e Amapá do Maranhão foram até o Povoado Vilela para
ameaçar toda a comunidade e, principalmente, a família do morador baleado, inclusive
afirmando que foram atrás dele no hospital e que aplicarão contra ele medidas mais cruéis e
brutais do que o que teria ocorrido com o policial que agiu para matar os moradores da
comunidade.
É necessária uma ampla campanha de apoio e solidariedade em prol de nossa
comunidade que vive uma luta com forças absolutamente desiguais e há anos só clamamos por
JUSTIÇA!”

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